terça-feira, 30 de novembro de 2010

5ª) Toada dos desenganos

Narrador: A diaba num sabia pra que lado decidir, se ia embora pra repuxo, pra viver vida de luxo, ou se ficava ali. Se enfeitou e foi pra missa, pra rezar e pra pedir, e nos degraus da capela o Passo Preto, cantador tagarela, riscou alto pra ela ouvir:

Cantador:
Mulher de cego que se enfeita não se endireita daqui pra li, não é pra fazer desfeita mas só enjeita a quem num sabe pedir! Hora vá, muntemo o mundengo e deixemos de dengo pra mode nos ir, pois é na cara do gado que se aprende a decidir! Depois do apuro passado a gente lembra e até ri, mas na hora do sufoco é salvador daqui pra li! Ôh Dália, me dê ouvido, ouvido dê atenção é que eu assuntei na feira, menina, uns boatos de João!

Forasteiro: Contam que em noites de lua cheia a lavadeira encantada (ai, ai, ai), desce só pelas escadas e segue calada até a boca do rio. Como quem cumpre a obrigação de lavar as águas do rio (quem sujou?), mas depois desaparece, tal qual fosse a prece que o vento soprou. Um dia desse um pescador banhava nas água do rio (quem mandou?!), cabô topando a donzela, se encantou por ela e nunca mais voltou. Uns contam que ele se afogou, outros que ele se mandou, outros não, e ainda hoje uma esperança no peito não cansa de esperar João.

Narrador: E sola o coro da igreja: “Deus proteja os filhos teus que sai a penar no mundo cheio de tribulação ir parar na cochichina resistindo a tentação se valendo só da fé que pouca é, menor que um grão”.

Forasteiro: Manhã haverá de passar, a fera mais bela de olhar (ai, ai, ai), com os cabelos cacheados e um balaio do lado pra me enfeitiçar. Na boca um canto de sereia, nos olhos umfogo abrasador (me queimou!); nessa noite de lua cheia sou fruto da aldeia no balaio do amor.

Noiva: São seis horas, Ave Maria deixou o rio com saudades da paz, dos tempos em que as delícias, corpos crus nus de cristais, no pé de um valsador bailava nos gerais com amor e nada mais!

Cantador: Menino da Boca do Rio, mas o que é que ocê quer?

Forasteiro: As curvas do Rio das Gotas feito curvas de mulher, pra que a menina navegue no desaguar dos meus zói; feito espelho cristalino são os lençóis dos zói do menino.

Cantador: Menina da boca do rio, e ocê, o que é cocê quer?

Noiva: A curva do Rio das Gotas tale como ela é: Clara, límpida, serena, graciosa em sua função e que lave com alegria as penas do meu coração.

Cantador: Houve um grande ajuntamento no No caldeirão dos apuros, pra onde foram convocados os vaqueiro mais taludos pra laçar o Boi Digira só com a mira das mãos, onde o vencedor seria o Rei do Laço do sertão.

Galalau do Mangue Seco quebrou a estaca nos peito numa arrancada de prancha de uma pegada sem jeito; Chico Venâncio, de Quedas, caiu parando côas mão o sangue véio das veia numa quarta de lua cheia, topando com a véa feia nesta festa de pião. E contam que esse entremeio durou sete dias sem trégua e sem freio. Deixando o currali vermeio com as poças de sangue dos homens mais véios dessas festanças de rodeio.

Deu a sexta badalada deu que João entrou na dança, era tanta esperança nos olhos desse peão! Corre-corre, pega-pega, finca pé, escorregão; Baio Anzol levou a nega, um burro n'água, outro no chão. Foi que o boi furou a cerca, espaiando a multidão; mata Romeu e Julieta distraindo o coração e foge pra mata fechada sendo asseguido de João que cheio de valentia de olho nas honraria topou com o que não queria e feito Saulo foi ao chão. Por resto nem rastro do gado que, na brincadeira, deixou João cegado; e o povo todo amedrontado gritava em coro: “-Olha o touro é encantado!” Indo, cada um pro seu lado.

Me contou um morador antigo da região que nunca mais viu rodeio naquele parmo de chão que se chamou derna então de Cemitério do Pião.
...
Vozes: Seu Ribeiro (narrador), Tom Nescimento (cego cantador), Eric Duarte (forasteiro), Adelaine Ribeiro (Noiva do Vaqueiro)Andreia Ribeiro (irmã da noiva) Sueli Silva (amiga).
Instrumentos: Violão (Seu Ribeiro), Acordeon (Coroné), Percussão (Johnny Herno), Caixa de Folia (Gibran Muller).

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