Narrador: A diaba num sabia pra que lado decidir, se ia embora pra repuxo, pra viver vida de luxo, ou se ficava ali. Se enfeitou e foi pra missa, pra rezar e pra pedir, e nos degraus da capela o Passo Preto, cantador tagarela, riscou alto pra ela ouvir:
Cantador:Mulher de cego que se enfeita não se endireita daqui pra li, não é pra fazer desfeita mas só enjeita a quem num sabe pedir! Hora vá, muntemo o mundengo e deixemos de dengo pra mode nos ir, pois é na cara do gado que se aprende a decidir! Depois do apuro passado a gente lembra e até ri, mas na hora do sufoco é salvador daqui pra li! Ôh Dália, me dê ouvido, ouvido dê atenção é que eu assuntei na feira, menina, uns boatos de João!
Forasteiro: Contam que em noites de lua cheia a lavadeira encantada (ai, ai, ai), desce só pelas escadas e segue calada até a boca do rio. Como quem cumpre a obrigação de lavar as águas do rio (quem sujou?), mas depois desaparece, tal qual fosse a prece que o vento soprou. Um dia desse um pescador banhava nas água do rio (quem mandou?!), cabô topando a donzela, se encantou por ela e nunca mais voltou. Uns contam que ele se afogou, outros que ele se mandou, outros não, e ainda hoje uma esperança no peito não cansa de esperar João.
Narrador: E sola o coro da igreja: “Deus proteja os filhos teus que sai a penar no mundo cheio de tribulação ir parar na cochichina resistindo a tentação se valendo só da fé que pouca é, menor que um grão”.
Forasteiro: Manhã haverá de passar, a fera mais bela de olhar (ai, ai, ai), com os cabelos cacheados e um balaio do lado pra me enfeitiçar. Na boca um canto de sereia, nos olhos umfogo abrasador (me queimou!); nessa noite de lua cheia sou fruto da aldeia no balaio do amor.
Noiva: São seis horas, Ave Maria deixou o rio com saudades da paz, dos tempos em que as delícias, corpos crus nus de cristais, no pé de um valsador bailava nos gerais com amor e nada mais!
Cantador: Menino da Boca do Rio, mas o que é que ocê quer?
Forasteiro: As curvas do Rio das Gotas feito curvas de mulher, pra que a menina navegue no desaguar dos meus zói; feito espelho cristalino são os lençóis dos zói do menino.
Cantador: Menina da boca do rio, e ocê, o que é cocê quer?
Noiva: A curva do Rio das Gotas tale como ela é: Clara, límpida, serena, graciosa em sua função e que lave com alegria as penas do meu coração.
Cantador: Houve um grande ajuntamento no No caldeirão dos apuros, pra onde foram convocados os vaqueiro mais taludos pra laçar o Boi Digira só com a mira das mãos, onde o vencedor seria o Rei do Laço do sertão.
Galalau do Mangue Seco quebrou a estaca nos peito numa arrancada de prancha de uma pegada sem jeito; Chico Venâncio, de Quedas, caiu parando côas mão o sangue véio das veia numa quarta de lua cheia, topando com a véa feia nesta festa de pião. E contam que esse entremeio durou sete dias sem trégua e sem freio. Deixando o currali vermeio com as poças de sangue dos homens mais véios dessas festanças de rodeio.
Deu a sexta badalada deu que João entrou na dança, era tanta esperança nos olhos desse peão! Corre-corre, pega-pega, finca pé, escorregão; Baio Anzol levou a nega, um burro n'água, outro no chão. Foi que o boi furou a cerca, espaiando a multidão; mata Romeu e Julieta distraindo o coração e foge pra mata fechada sendo asseguido de João que cheio de valentia de olho nas honraria topou com o que não queria e feito Saulo foi ao chão. Por resto nem rastro do gado que, na brincadeira, deixou João cegado; e o povo todo amedrontado gritava em coro: “-Olha o touro é encantado!” Indo, cada um pro seu lado.Me contou um morador antigo da região que nunca mais viu rodeio naquele parmo de chão que se chamou derna então de Cemitério do Pião.
Vozes: Seu Ribeiro (narrador), Tom Nescimento (cego cantador), Eric Duarte (forasteiro), Adelaine Ribeiro (Noiva do Vaqueiro)Andreia Ribeiro (irmã da noiva) Sueli Silva (amiga).
Instrumentos: Violão (Seu Ribeiro), Acordeon (Coroné), Percussão (Johnny Herno), Caixa de Folia (Gibran Muller).
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